sábado, 2 de novembro de 2013

Epifania do dia: Epílogo

Arte de Laura Agapito

Estávamos deitados no sofá abraçando a felicidade que o universo nos concedeu. A televisão e o som estavam ligados. Eu queria assistir filmes antigos e você queria ouvir uma seleção de música que fizemos num outro dia qualquer. Então, fizemos os dois. Estava tocando “Ho Hey” e passando a série “Supernatural”.  
    
Tiramos aquele dia pra ficar em casa fazendo o que os casais fazem para terem um romance duradouro: nada. Acordamos às dez da manhã e almoçamos uma comidinha caseira que você insistiu em fazer.  O mínimo que eu poderia fazer era preparar uma bebida. Fui ao supermercado comprar uma Coca-Cola. São essas coisinhas de gente apaixonado que nos faz sofrer depois que a separação se faz presente. Depois do almoço e de um acordo tácito de deixar as louças pra lavar depois, nós dormimos no sofá. É incrível como um objeto pode colecionar tantos sentimentos.

Eram três da tarde quando o barulho da chuva nos acordou. Eu levantei e fui até a janela, abri e respirei chuva, amei a chuva. Infelizmente, a devoção não era recíproca, logo ela se foi. Foi-se como tudo na vida um dia nos deixa, até a própria vida. Até você.

Não importa quanto tempo passamos juntos, o pensamento do abandono sempre consegue entrar. Não importa quanto tempo passamos juntos, o que importa é buscarmos a nossa felicidade enquanto os corpos ainda necessitam um do outro. No final das contas, é pra isso e por isso que vivemos. No final do dia é o que colocamos na balança da satisfação. Sofrer só é um incômodo porque pesa. Mas estou conseguindo me arrastar bem. Agarro-me ao dicionário todos os dias; autossuficiente: que se basta a si mesmo. Levanto-me todos os dias me sustentando nesse abstrato. É assim que vou vivendo até que precise de algo do exterior novamente. Então, guardarei esta palavra lá no fundo do guarda-roupa até que ela tenha que me reconfortar novamente.

Foi numa noite cálida. Estávamos sentados na calçada da sua casa. Você me chamou pra sentar lá fora, disse que as estrelas são ótimas como plateia. Sentamos um ao lado do outro, doeu. Não me colocou em seu colo como sempre fazia. O “sempre” é tão deprimente. Não posso te culpar por ser gentil até nessa hora. Foi uma das coisas que me atraiu em você. Você pegou a minha mãe e beijou-a, olhou pra mim e depois para o céu sem soltar minha mão. Acho que, de certa forma, todos sonham com um fim romântico tanto quanto um começo.

Mas chegou o tempo de nos despedirmos. Chegou a hora de fazer outra pessoa feliz. A dor que me deixa no peito não é maior do que as alegrias. Sejas feliz assim como eu fui contigo, mas não peça para eu não ficar triste. É o que vai me fazer lembrar o quão bom foi o nosso tempo.

Eu não chorei quando ele me disse que tinha conhecido outra pessoa. Não chorei quando ele me disse que ainda poderíamos ser amigos. Não chorei quando ele disse que a outra pessoa era alguém próximo. Não chorei quando cheguei em casa e encontrei o vazio no sofá esperando a minha companhia. Não chorei quando pensei que, de certa forma, foi justo, ao invés de duas pessoas sofrendo, só havia uma: eu. Não chorei quando senti falta das coisinhas de gente apaixonado que fazíamos juntos. Quando olhei para a pia e percebi que as louças ainda estavam lá, eu chorei.

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Mundo Leitor

É um mundo de palavras
rimadas ou não
pensadas, faladas
escondidas no coração

Mundo que é mágico
faz ser real a imaginação
Mundo que sonhei
E cantei numa canção

Mundo que é capaz
de me tirar daqui
Mundo que me dá paz
Pra dentro de mim posso fugir

Neste mundo me encontro
E as palavras me fazem um favor
Aqui eu sempre viverei
Aqui é o meu Mundo Leitor!


Autora: Dâmaris Góes

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