domingo, 28 de fevereiro de 2010

Os Treze Fragmentos - Primeiro Capitulo

Depois de algum tempo sem escrever, pelo menos sem escrever aqui no Mundo Leitor, estou de volta com o primeiro capitulo da Saga Os Treze Fragmentos,  o prólogo da Saga você confere aqui, comentem o que vocês acharam e sem mais delongas...


 
Capitulo 1:
A ultima noite de guarita


    Do alto da colina de Garf observava Berg a imensidão do litoral de Kiensen, um lugar que lhe trazia lembranças boas e péssimas, as melhores coisas de sua infância aconteceram naquele litoral, e a pior também veio dele.
    A tarefa de Berg era essa noite exatamente essa, guardar sua pequenina vila e seu grande litoral, ele vigiava numa guarita no alto de Garf, acompanhado pelo seu companheiro miliciano Matt. Diferente de Berg, Matt que agora dormia julgava o trabalho de guarita uma perda de tempo e de sono, visto que ele sabia que desde aquele dia trágico em que a Milícia de Kiensen foi criada, nada havia acontecido na vila. Toda e qualquer ação em que a Milícia se envolvesse era na capital quando chamada pela Rainha Alicia.
   Já Berg, levava o seu trabalho extremamente a serio. Ele era de longe o miliciano mais aplicado desde que se juntou a milícia, e um posto mais elevado ainda não lhe foi dado devido aos seus poucos 21 anos de idade. Em termos de técnica de combate ele era o melhor de toda Kiensen, melhor até que o seu pai Bergurius. E além de bom combatente Berg era letrado, com sua idade ele provavelmente já tinha lido mais livros de que toda a sua família junta mais Matt. Os moradores da vila sempre souberam que Berg só se aplicava desse jeito para poder proteger seu pai e sua ultima amiga Bia, visto que Berg nunca abandonou a vila, mesmo quando requisitado pela majestade de Lirion.
   Berg adormeceu enquanto olhava as ondas das praias oceânicas de Kiensen, e como todas as vezes não tardou até sonhar com Miro e Maran, e o dia em que eles morreram. Mas os sonhos eram mais cruéis do que se podia esperar de sonhos ou até mesmo de pesadelos. Nos sonhos Berg via no principio seu romance juvenil e inocente com Maran, e sua amizade com o irmão de seu amor Miro. Os dois eram muito importante na vida de Berg, seu melhor amigo e sua namorada, com Bia os quatro formavam um grupo impressionante. Qualquer um em Kiensen via quanto potencial havia naquelas crianças e em sua amizade, e os sonhos mostravam isso a Berg, e eles iam alem e mostravam um futuro que não pode mais existir, Maran e Berg casavam-se, Berg e Miro batalhavam em uma guerra lado a lado e venciam... e logo depois o sonho mostrava a verdade, mostravam as balas que vazaram o corpo de Maran e o seu, e viu o penhasco próximo a Garf onde ele viu Miro se atirando e tirando sua própria vida enquanto ele tentava correr para segura-lo...  “Não pule amigo!” e foi com esse grito que Berg acordou.
   Seu rosto estava suado, o vento era forte e balançava seus cabelos que começavam já ficar longos e que estavam ficando sujos, mas não sujos o suficiente para que não se percebesse o brilho castanho que ele possui. As roupas também não escapavam da sujeira já que o chão gramado e molhado da chuva do dia anterior lhe servia como cama. Não havia preocupação com a roupa visto que era apenas mais um de seus sete uniformes reservas. Nada mais que uma capa cinza, e uma jaqueta de um tecido forte e azul de um tom muito escuro, podia ser facilmente confundida com um preto se não houvesse um luz por perto, ou se estivesse tão suja quanto agora. A jaqueta trazia a insígnia de Kiensen no bolso esquerdo e nada no direito, existia também um chapéu mas nem Berg nem qualquer um dos novos milicianos o usou nem ao menos uma vez, algo que sempre deixou o Capitão Angisen exasperado já que a idéia do chapéu foi sua.
  - Já se passaram mais do que sete anos cara, você ainda sonha com essa droga? - Perguntou Matt, que tinha acordado com o grito de Berg.
  - Desculpe por ter te acordado Matt, mas não fique tão irritado amanha é nossa folga. - Disse Berg.
  - Folga? Nos estamos de folga todo dia, não fazemos nada nessa droga, a não ser você que realmente fica acordado quando esta de guarita e realmente treina com a espada quando tem tempo, mesmo sabendo que nunca vai usá-la e que nunca vai ter valido a pena ter ficado acordado.
  - Se alguém estivesse acordado e de guarita a sete anos atrás ...
  - Maran e Miro ainda estariam vivos, nossa cara você já repetiu essa frase varias vezes. - interrompeu Matt
  - E ninguem ainda entendeu. Quer saber esquece Matt, volta a dormir! - Disse Berg já irritado com a insensibilidade e estupidez de Matt.
  Matt era mais velho e detestava ser desrespeitado assim, ainda mais por alguém como Berg que aos seus olhos era apenas mais um garoto ingênuo e traumatizado, como varios outros na vila. Então o primeiro impulso de Matt seria a briga, mas o sono já voltava com muita força e ele podia sentir que o sol já nasceria em pouquíssimas horas, então achou melhor ignorar Berg e se deitar novamente. Ele ajeitou algumas folhas, colocou sua espada e seu escudo sob a sua cabeça e fechou os olhos com força, parecendo que estava se forçando a dormir, algo que Berg achou muito estranho e engraçado e até deu um curto e silencioso sorriso, que despertou certa curiosidade em Matt, mas o sono venceu novamente um combate, e ele finalmente dormiu.
  O mais jovem dos milicianos de Kiensen agora ficou de pé e contemplou não só o litoral de Kiensen, mas toda o continente ilha de Lirion, pelo menos até onde seus olhos alcançavam. E seus olhos alcançavam muito, mas pelo visto não era nem perto do suficiente para enxergar um sexto do que era todo o continente, mesmo estando de um dos morros mais altos de Lirion. Mas se apertasse bastante os olhos, ou usasse a luneta que fica presa a janela da guarita, ele conseguiria ver o palácio real da rainha Alicia e a praça principal da capital, e esse era um dos lugares que ele mais gostaria de visitar. Na verdade sem saber o que o futuro lhe preparava, o maximo em que ela já sonhou em ir visitar era justamente a capital, onde ele nunca foi apenas para não abandonar seu pai e Bia.
  Bergurius, seu pai, era um homem doente, tinha adquirido a dois anos uma tuberculose pesada e desde então nunca mais foi o mesmo, mas em sua juventude Bergurius era cheio de animo e saúde, lutou no exercito de Lirion em duas guerras, dizem ter tido um relacionamento amoroso breve com a então princesa Alicia, rumor esse que ele sempre desmentiu com um largo sorriso no rosto, ele veio de uma família riquíssima, e ele se casou com uma mulher ainda mais rica chamada Fran, eles foram muito felizes até que a morte os separou, no parto de Berg, Fran não resistiu e deixou a vida, foi ai que Bergurius perdeu sua vontade de viver pela primeira vez, e fugiu da capital com todo seu dinheiro e com seu filho recém nascido. Procurou um lugar mais calmo e encontrou Kiensen, e lá se fixou. Era o homem mais rico da vila, o que numa escala continental não significava nada, mas mesmo assim ele sempre ofereceu ajuda a todos do lugar. Sua vontade de viver veio outra vez quando seu filho havia crescido um pouco, ele adorava as tardes onde lia e treinava espada com seu filho e com o amigo dele Miro nessas horas ele se sentia feliz novamente, e até a doença o atingir, ele era o “cidadão líder” do vilarejo, mesmo que convivendo com elfos, o povo sábio, na vila, o povo d Kiensen o escolheu Bergurius como seu líder, algo que sempre o envaideceu.
   Berg nunca cansa de ouvir e indagar os viajantes do porto e da estrada sobre remédios para a doença do pai, Bia prometeu pesquisar melhor na próxima vez que ela fosse a capital, mas secretamente nem ele nem Bia, e nem mesmo Bergurius tinham alguma esperança quanto a vencer a doença, mas eles tentavam o melhor que podiam.
E os primeiros raios de sol saíram por trás das montanhas da costa, bateu em Berg uma forte vontade de acordar Matt para dar a boa noticia, de que já havia chegado o dia de folga que eles, ou pelo menos ele, esperava tanto, mas depois lembrou que Matt era insuportável e preferiu só acordá-lo quando a rendição chegasse.
  Berg se sentou e pegou uma fruta de sua bolsa, uma maça ou algo semelhante, deu duas mordidas e foi o suficiente para que ele pudesse ver duas pessoas trajando jaquetas azuis escuro com insígnia de Kiensen no bolso esquerdo.
   A colina era íngreme, portanto a rendição demorou a chegar a guarita, não havia uma escada nem nada em que se segurar a não ser mato, o chão era gramado e estava molhado, portanto escorregadio também, mas o caminho fixo que os milicianos tomavam ultimamente já começava a traçar uma trilha no chão, os dois que subiam tentaram achar essa trilha mas não conseguiam, por isso demoraram bastante.
   Berg subitamente se sentiu ansioso pela chegada deles até o local, ele sentia uma vontade incrível de ir embora, não apenas dali mas de Kiensen, ele não sabe de onde essa vontade surgiu, mas tentou reprimi-la, e fingiu ter conseguido. Acordou Matt com as mãos sujas de maça.
  - O que você quer agora Berg? - Perguntou Matt com os olhos entreabertos e com uma entonação mal humorada.
   - Já é dia, e a rendição chegará em alguns minutos, você tem que acordar, ou então todos vão saber que você é um gordo preguiçoso e vagabundo! - Disse seriamente Berg.
   - Olha como você fala comigo seu moleque! - Levantou num salto e ameaçou partir pra cima de Berg quando Frand e Walsh chegaram, e ele teve que parar.
   - O que está acontecendo? - Perguntou o jovem Walsh - Por acaso nos estamos atrapalhando alguma coisa?
   - Só o assassinato de um garoto abusado! - Disse Matt agora mais relaxado, mas não completamente calmo.
   - O sol já esta de pé e vocês ficam ai querendo se matar? - Perguntou Frand, que era mais velho que Matt, e já atingia seus 32 anos. - Vocês deviam estar preocupados em descer e ir dormir, se é que já não dormiram o suficiente essa noite no lugar de trabalhar, mas tudo bem, partam que já o nosso turno!
   - Não ousaria dormir no meu turno Frand, então realmente vou partir agora, descerei a colina, mas talvez Matt fique e aproveite melhor uma conversa com vocês do que uma cama em sua casa, não creio que ele esteja com muito sono. - Disse Berg se preparando para descer a colina.
   - Nem ouse largar o chato do Matt aqui Berg, mesmo porque eu tenho que dormir e não vou ficar ouvindo esse papo de velho entre ele e Frand. - Disse Walsh.
 Matt apenas sussurrou algo inteligível e pegou suas coisas dentro da guarita e as guardou em sua bolsa, Berg já havia preparado as coisas.
   - Por Vah! - Exclamou Frand. - Isso é o que acontece quando se é jovem e irresponsável, aposto que você ficou toda a noite na farra e por isso quer dormir também agora. - Disse isso se referindo ao ultimo comentário de Walsh.
   - É mesmo senhor Frand - Disse Berg - Acho que além do Capitão Angisen, você e eu, ninguem mais se preocupa com a proteção de Kiensen.
   - Não existe “farra” a noite, nem nada para “proteger” em Kiensen, vocês são dois  malucos assim como o capitão - Disse Walsh sorrindo, o que levou Matt a uma gargalhada também, mas ele já estava na íngreme descida e gritou de lá “Vejo vocês amanha de manhã no café, adeus! ”.
   Depois de por a bolsa nas costas de também dizer adeus, Berg desceu a colina, com um pouco de dificuldade, escorregou duas ou três vezes durante o trajeto mas não se machucou, isso se não for contar um pequeno arranhão que um espinho de uma roseira selvagem fez em seu braço esquerdo.
   Já no final da colina de Garf, ele enxergava as primeiras casas mais afastadas do centro da vila. Eram em sua maioria casas pobres e desprotegidas, algumas crianças já corriam pela rua, mesmo com a manha tendo apenas chegado.
   Antes da casas estava a Igreja central de Kiensen, os poucos que realmente levavam o Vahismo a serio na vila, ali se reunião, embora muitos fossem adeptos dele no vilarejo e nos arredores, poucos eram os que a freqüentavam com ávidos e fidelidade, mas ele sempre estava lá, imponente e bela, bem diferente das casas que a cercava.
   Com um pouco mais de caminhada, Berg chegou ao centro da vila. Os comércios começavam a abrir, mas o da família de Bia continuava fechado, e mesmo que estivesse aberto Berg só iria lá após algumas horas de sono.
   A casa de Berg era provavelmente a mais bela de toda a vila, as vidraças eram limpas e esverdeadas, um longo jardim gramado e com rosas estavam ante a porta de carvalho, larga e reluzente, e até ela, uma trilha de pedrinhas cortava o jardim até o portão feito de grades prateadas, era definitivamente uma bela casa.
   Berg adentrou o portão, seguiu pela trilha sem espalhar muitas pedrinhas para a grama, e parou em frente a porta abriu a bolsa que carregava, e procurou nela uma pequena chave dourada, demorou não mais que um minuto para achá-la, e com ela abriu sua casa, entrou e a fechou. Já dentro da casa guardou suas coisas, sabia que tanto seu pai, quanto a caseira Jane estavam dormindo, pois acordavam mais tarde do que isso. Não iria tomar um banho porque tinha preguiça de prepará-lo, nem comeria nada descente, porque suas habilidades culinárias não existiam, então tudo o que fez, foi caminhar em direção ao quarto, tirar a jaqueta azul da milícia, e se jogar na cama, sabendo que tinha cumprido seu papel, e que agora os olhos Frand guardavam a vila, e então pode dormir.

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Mundo Leitor

É um mundo de palavras
rimadas ou não
pensadas, faladas
escondidas no coração

Mundo que é mágico
faz ser real a imaginação
Mundo que sonhei
E cantei numa canção

Mundo que é capaz
de me tirar daqui
Mundo que me dá paz
Pra dentro de mim posso fugir

Neste mundo me encontro
E as palavras me fazem um favor
Aqui eu sempre viverei
Aqui é o meu Mundo Leitor!


Autora: Dâmaris Góes

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