BC: Você possui graduação em Física - Universidade de São Paulo, mestrado em Filosofia e História da Ciência - McGill University, Canadá, e doutorado em História da Ciência pela Universidade de São Paulo. Como esse lado cultural apareceu?
JLG: É sempre uma longa história!
Minha vida é cheia de boas bifurcações não previstas!
BC: E graças a uma dessas bifurcações não previstas hoje você é responsável pelos programas culturais mais importantes do Brasil, gosta dessa responsabilidade?
JLG: Mesmo como estudante de graduação e pós eu sempre agitei muitas atividades paralelas! Mas foi na volta ao Brasil após a pós no Canadá que me envolvi em editar o pensamento de Mario Schenberg que estava velhinho.
Então eu comecei a gravar suas falas e promover encontro com personalidades e dai... Virei editor de livros e logo livreiro! Assumi a Livraria Belas Artes que foi um grande espaço cultural de Sampa e aonde me formei em 18 anos como incentivador da leitura!
Depois que fechei a Belas em 2003 comecei a atuar em projetos de incentivo a leitura em vários estados do Brasil.
A dedicação aos livros e a promoção da leitura mudou muito minha vida, pois nunca mais pude dedicar-me full time a universidade. Tornei-me assim um professor e pesquisador da PUC SP na área da história da ciência e ao mesmo tempo um agitador cultural envolvido principalmente com a batalha por um Brasil de Leitores.
BC: Você tinha uma editora, dessa eu não sabia, porque fechou?
JLG: Editora Nova Stella dedicada à história da ciência. Lancei Galileu, Newton Bruno e claro o próprio Schenberg entre outros! Foi muito legal divulgar a área no país. Mas como toda pequena editora as dificuldades econômicas são grandes e num certo momento decidi ficar com a atividade de livreiro e professor encerrando a carreira de editor. O curioso é hoje tenho a alegria de seguir com a Nova Stella não mais uma editora, mas um programa de debates na TV PUC. Os programas estão disponíveis no YouTube e tenho um publico fiel na TV ha 5 anos.
BC: Você acha que falta um certo apoio pra essas editoras menores ?
JLG: Eu tive apoio de muitas editoras universitárias, eu fiz muitas coedições. Há de certo modo relativo apoio para editoras médias e pequenas que se dedicam a obras universitárias. Mas o mercado é muito restrito. Seria preciso que as bibliotecas públicas, universitárias e mesmo comunitárias tivessem uma política de aquisição. Este é o grande gargalo em nosso país; as bibliotecas compram poucas obras! Em termos fiscais o livro já possui muitos incentivos no Brasil. A grande questão é conquistar um público leitor mais significativo principalmente qdo obsevamos a população do país.
BC: Há grandes projetos de apoio na internet para que se leia mais, aos poucos os leitores vão crescendo, mas o que ainda falta para o Brasil ser um país de leitores?
JLG: Você tem razão! A internet e as redes sociais estão possibilitando novas formas de buscar novos leitores. Dentro do twitter temos realizado muitas campanhas ao longo do ano colocando o tema do livro e da leitura em foco, como a campanha #doeumlivro no final do ano. Na verdade a questão da leitura em nosso país exige uma mudança de hábito. Não temos como nação o hábito da leitura por prazer. Creio que esta mudança exige uma grande mobilização de todos os atores da sociedade: governo, sociedade civil, famílias, escolas, mídia (nova e tradicional), ONGs, terceiro setor etc... Precisamos avançar na consciência de que sem o habito da leitura estaremos sempre patinando neste mundo da informação do conhecimento.
BC: Falando na campanha, explica um pouco para o público do ML como funciona essa campanha e o seu crescimento.
JLG: Bem #doeumlivro é um ótimo exemplo de uma mobilização que nasce no twitter visando provocar as pessoas, chamar a atenção para importância da leitura. Nasceu assim em 2009 embalado por mim e dois parceiros de Minas Gerais, @doeumlivro e @prosapolitica Mas a coisa ganhou muita força na rede e logo percebemos que precisávamos partir efetivamente para a arrecadação física dos livros A partir de então fomos conseguindo parcerias com instituições, especialmente a rede de farmácias Droga Raia e ao longo destes anos já conseguimos arrecadar mais de meio milhão de livros e entrega-los a escolas e bibliotecas publicas. É uma grande alegria sentir como a rede social da internet por ultrapassar o digital e ganhar as ruas o mundo presencial.
BC: Foi uma iniciativa sua e do @prosapolitica essa campanha, da onde vocês tiraram essa ideia e como foi que conseguiram a parceira com a Droga Raia, que é peça chave nessa campanha ?
JLG: Bem quem iniciou foram os mineiros, @prosapolitica (heber) e @doeumlivro (laura) eu logo percebi a força do que eles haviam iniciado e me juntei de corpo em alma, creio q em outubro de 2009 - o grande ano do nascimento efetivo do twitter no brasil. a droga raia já realizava sua campanha de arrecadação no final do ano e eu tive então a idéia de juntar esforços e usar a força das redes sociais para turbinar a arrecadação E funcionou! Tivemos ótimos resultados desde então. Alem da arrecadação fisica é lindo ver a quantidade de tuiteiros que participam ativamente. Alias não só no twitter, mas no facebook também.
BC: Realmente é muito bom mesmo, muita gente no twitter gosta de ajudar essa campanha, em sua opinião se houvesse mais a participação de grandes autores nacionais nessas campanhas poderíamos elevar ainda mais a vontade do brasileiro de ler? E ler obras nacionais que há muita coisa boa também.
JLG: Sem dúvida a participação de autores nas redes sociais poderá auxiliar muito no inventivo à leitura. Veja como as pessoas curtem ir a eventos literários e conhecer ao vivo os autores em mesas de debates. Acredito sim que com o tempo os autores estarão mais presentes nas redes sociais da internet e este será um fator a auxiliar nossa luta pelo habito da leitura por prazer.
E claro como curador do prêmio jabuti há 21 anos sou a maior testemunha de que produzimos excelente safra de ficção e não ficção a cada ano! Falta claro um público leitor a altura desta produção!! E para isto que realizamos tanta promoção da leitura!
BC: Obrigado Goldfarb por essa entrevista, e para encerrar, o que acha do blog do Mundo Leitor?
JLG: Acho fundamental! Assim como o twitter os blogs fazem toda a diferença atraindo os jovens para tantos temas importantes. E o Mundo Leitor ataca exatamente a promoção da leitura divulgando dicas, resenhas, enfim ajudando a espalhar as maravilhas que estão nos livros esperando os leitores. Contem comigo sempre!
Adorei a entrevista foi inspiradora e acho muito importante o incentivo a leitura este ano vou participar também. Parabéns Bruno pela entrevista que é uma das melhores que já vi e parabéns José Luiz por incentivar a leitura Brasil afora grande trabalho.
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